Um ditado popular que reflete a insistência, a busca incessante por dias melhores em qualquer atividade: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” pode se encaixar perfeitamente para a trajetória do decano dos criadores paranaenses do cavalo de corridas.

Clemente Moletta

Clemente Moletta, nascido em 26 de novembro de 1927 – hoje no auge dos seus 97 anos, muito ativo, frequentador assíduo das corridas do Tarumã, participante frequente dos leilões e um criador apaixonado do PSI, tem uma bela história dentro da criação; onde, certamente, nem tudo “foram flores”, porém conseguiu chegar com seu modesto haras, aonde muitos grandes haras não chegaram.

Junto a seu pai Antônio Moletta, Clemente já criava cavalos na década de 40. No início eram apenas mestiços. GLEBA, TIROLEZA e TAPIR foram alguns de sua criação que fizeram sucesso no Guabirotuba, e pelas canchas-retas. Outro animal de sua propriedade foi a égua mestiça LEMBRADA, que venceu no Prado Velho em 1952 montada pelo aprendiz PEDRO NICKEL, que posteriormente se tornaria um dos maiores treinadores da história do turfe brasileiro.

Moletta com LEMBRADA (1952)

Após um breve período afastado dos cavalos, adquiriu BERNADETE e HOMA para reiniciar na criação, agora com o PSI. Cruzou as duas com FAIR TRADER-GB, porém teve o dissabor em ver BERNADETE abortar e HOMA perder o produto no parto.

Em 1962, fundou o Haras Clemente Moletta em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, com cinco alqueires, 15 piquetes, 30 cocheiras e uma média de 10 reprodutoras no seu plantel. Todo o trabalho no haras era movido apenas por Clemente, sua esposa e filhos, sem nenhum funcionário, numa diária e árdua função familiar.

Seguindo em frente no seu propósito de criar bons cavalos adquiriu outras éguas e o reprodutor PINGA FOGO (1950), um dos raros filhos diretos do francês Formastérus na argentina Arquiduna. Uma grande esperança, tanto que recebeu várias propostas para vendê-lo, porém resolveu apostar suas fichas nele. Entretanto perdeu sua aposta já que PINGA FOGO produziu apenas filhos limitados.

Depois de PINGA FOGO, Clemente Moletta apostou em LOCIGAL (1968- Cigal-GB e Sabrina por Winter Garden-GB), de sua criação, com o qual venceu a Exposição de Potros Paranaenses de 1970. Produziu alguns bons ganhadores, porém morreu logo com apenas 19 filhos nascidos.

Após usar os serviços de reprodutores de outros haras, Clemente Moletta trouxe para o seu haras o bom ganhador MURATORE (1970 – Cigal-GB e Ana Lúcia por Angélico-GB). Como reprodutor produziu apenas 27 produtos com 09 ganhadores.

Em mais uma tentativa de encontrar o bom garanhão, Clemente Moletta incorporou ao haras o clássico ganhador de 12 corridas, de criação do Haras Mondesir, TESOURO (1975- Locris-FR e Zarca por ZayaniFR). Este reprodutor produziu 35 produtos ganhadores de 105 corridas, como o clássico JAK-TAR (LR); TESOURA-MAMI (11 vitórias), TESOURA NEGRA (9 vitórias), TESOURO DE OURO (7 vitórias), LA TESOURA (6 vitórias) e TESOURA GIRL (5 vitórias). Mas Clemente queria mais…

Os potros de criação do Haras Clemente Moletta sempre foram muito bonitos, de ótimos físicos e bons aprumos. Tanto que seus potros venceram a Exposição de Potros Paranaenses em cinco ocasiões. Clemente também possuía muitos clientes para seus animais como Antonio Zen, Fernando Wolf, Aramys Bertholdi, Sadao Suzuki, João Carlindo, José Cid Campelo, Guido Pelanda e Ricardo Slaviero.  

LOCIGAL vencedor da Exposição de 1970

Alguns anos sem manter garanhão próprio no haras, Clemente Moletta usou os serviços de reprodutores de outros haras e, a partir de 2001, passou a batizar os seus produtos com o prefixo DÁ-LHE, e a correr mais animais com a sua farda. E nessa geração surgiu aquele que daria a sua maior alegria até então: DÁ-LHE GRISON (Burooj-GB e Goodbye por Tokatee-USA) que venceu em  2004 o GP Paraná-Grupo 1. Um feito memorável que fez com que todos os dissabores experimentados por esse criador em sua longa trajetória, se tornassem apenas detalhes se comparados ao deleite de vencer um GP Paraná Grupo 1.

DÁ-LHE GRISON

E não parou por aí… Mesmo após decepções com reprodutores próprios, e as dificuldades do turfe em geral; quem pensou que Clemente Moletta iria desistir, enganou-se. Trouxe para a reprodução o cavalo É DO SUL (2002- Irish Fighter-USA e Important Daisy por Ghadeer-FR) – excelente milheiro ganhador clássico de Grupo 3. Na reprodução É do Sul produziu DÁ-LHE SALVADOR (Líder de geração em Cidade Jardim- Exportado – ganhador clássico no Uruguai e em Omã ), DÁ-LHE SENADORA (1º G3), DÁ-LHE CONQUISTADOR (Clássico G3), DÁ-LHE REQUEBRA (1º LR), DÁ-LHE GHADEER (Exportado com excelente campanha no Uruguai e em Omã – Recordista), entre outros.

DÁ-LHE SALVADOR (foto: Porfirio Menezes)

Enfim, o mais longevo criador de cavalos de corrida do Paraná chegou ao auge de sua criação com o reprodutor É DO SUL. Clemente Moletta tirou fotografias clássicas com os seus cavalos no Brasil e no Exterior. – Um feito obtido por poucos criadores e proprietários brasileiros.

Eleito Personalidade do Turfe Paranaense 2018/2019, seu Clemente é figura querida em nosso meio e merece todas as homenagens por sua bela história no turfe, seu incondicional amor pelos cavalos e seu grande sucesso nas pistas.

             CLEMENTE MOLETTA

      RESISTIU, INSISTIU e VENCEU.

 

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