Em 1966, dois amigos adquiriram uma área em Piraquara e fundaram um centro de criação do puro sangue inglês – O Haras Gralha Azul.

Fernando Guimarães, lá pelo final da década de 20, era frequentador da Igreja de Santa Terezinha; e nos antigos brinquedos com cavalinhos de metal já ficou fascinado por aquelas corridas que imitavam as reais do turfe. E quando conheceu o hipódromo, vendo os verdadeiros cavalos disputando os páreos, não conseguiu mais ficar longe daquele meio. Fernando, inclusive, participou de algumas provas para jóqueis amadores na Guabirotuba e Tarumã.

                Fernando Guimarães

O advogado Pedro Luiz Nicolau, frequentador habitual do Jockey Club desde 1946, no Guabirotuba, sempre gostou muito de visitar os haras de criação do PSI. Adorava cavalos e, mesmo antes de ser proprietário, partiu para a criação de cavalos de corrida junto ao amigo Fernando Guimarães.

                Pedro Luiz Nicolau

O Haras Gralha Azul com 22 alqueires, possuía 20 piquetes, lagos, alojamento para garanhões e 33 boxes em dois belos conjuntos de cocheiras. Iniciou com a aquisição de duas reprodutoras de propriedade do Haras Paraná: Gavealinda(1950 – Cumelen-ARG e Jocasta por Trigal – ARG) e Boa Sorte (1950 – Bannerman–GB e Acauan por Taciturno-FR).

Pedro Luiz e Fernando Guimarães se entendiam muito bem na sociedade. Eram sócios no plantel, mas não na propriedade, que embora fosse uma área conjunta, foi dividida em 11 alqueires para cada um. Pedro Luiz se dedicava mais ao plantel e Fernando ficava com a parte administrativa. No início a gerência ficava a cargo do ex-jóquei Ezio Pinheiro.

O primeiro garanhão alojado no Haras Gralha Azul foi Argonaço (1957-Aram-FR e Somerville-ARG por Petit Bleu-GB). Na sequência o reprodutor chefe seria Lação (1967- Prosper e Cuva por Sayani-FR), cavalo de simples campanha, e de criação de Antônio Joaquim Peixoto de Castro Júnior. Não vingou, pois produziu apenas dezesseis produtos sendo cinco ganhadores.

                     Haras Gralha Azul

Criando pouco, a sua primeira geração nascida no haras era composta de três produtos: Argel (não correu), Adis Abeba (3 vitórias) e Abstrata (6 vitórias). A geração B também produziu três produtos: Bancoc (13 vitórias), Beladona (não correu) e Bofurin (6 vitórias). Na geração C o haras produziu apenas um único produto: Colete (13 vitórias).  Seguindo o alfabeto, o Haras Gralha Azul entrou numa fase muito ruim, com perda da produção e animais sem expressão. Essa sequência seguiu até a geração F (1973).

A partir de 1974 todos os potros nascidos passaram a ser nominados com o prefixo da língua inglesa “Blessed” – “Abençoado” na tradução à língua portuguesa.

Ao lado do conhecido sentido religioso, e usando outro conceito mais abrangente; o termo “abençoado” pode ser empregado quando nos referimos a algo ou alguém que é próspero, feliz e afortunado, ou seja… em “estado de graça” com abundância de bons resultados. Seria isso que estavam buscando os titulares do Haras Gralha Azul ao “batizarem” seus produtos com esse prefixo? Caso tenha sido realmente esta a ideia, foi um grande acerto que tiveram, pois melhores resultados passaram a acontecer.

Já nessa nova primeira geração surgiu um líder em Cidade Jardim: BLESSED GARDEN (Pinhal e Beladona por Quintilius)- 7 vitórias (1º GP Juliano Martins G2, 1º Clássico José de Souza Queiróz LR, 1º Derby Paranaense e 2º no Derby Paulista G1).

O sucesso de Blessed Garden alavancou o haras que resolveu investir adquirindo boas matrizes – reforçando o plantel em qualidade e quantidade, chegando ao número de 23 reprodutoras. José Maria Pinto Oliveira seria um dos responsáveis pelas indicações de reprodutoras.

Outros bons animais passaram a surgir da criação Gralha Azul como Blessed Gay (clássico de 10 vitórias), Blessed Harmony (clássica LR), Blessed Kenyon (clássico de 11 vitórias), Blessed Lady (clássica LR), Blessed Green (7 vitórias – LR), Blessed Machine (clássica G3 – 10 vitórias),  Blessed Match (13 vitórias), Blessed Otan (clássico), Blessed Oregon (8 vitórias), e muitos outros.

Em 1982, a sociedade entre Pedro e Fernando chegou ao seu final, sendo que Fernando acabou vendendo a sua área de 11 alqueires para Sidney Catenaci (Haras Águia de Prata). Pedro continuou com o Haras Gralha Azul e seguiu criando bons animais como Blessed Maid (clássico G1), Blessed Mustang (1º G3), Blessed Giant (clássico G3), Blessed Fighter (clássico de 7 vitórias), Blessed John (clássico de 8 vitórias), Blessed Brisk (clássico), Blessed Quickness (clássico), Blessed Tiger (1º G2) e Blessed Trust (10 vitórias- 1º G2).

Porém, como o animal mais importante e lembrado do Haras Gralha Azul podemos citar BLESSED NEST (1981-Nest e Blessed Girl por Carpinus-GB). Esse cavalo estreou vencendo uma penca na Fazenda Rio Grande; na sequencia venceu a penca de Santa Bárbara do Sul-RS, e a seguir venceu um GP em Ponta Grossa. Veio para o Tarumã e na sua segunda apresentação, ainda como animal sem vitórias em hipódromos oficiais, triunfou no GP Paraná G1 de 1984. Continuando campanha chegou 2º no GP Brasil G1 (a pescoço do craque Grison) e 3º no GP São Paulo G1. Um espetacular corredor.

      Pedro Luiz segura Blessed Nest

O resultado do Haras Gralha Azul pode ser considerado espetacular, pois com pouca produção anual ultrapassou a marca de 500 vitórias de sua criação, chegando, em determinada época, a figurar entre os 10 criadores melhores colocados nas estatísticas nacionais.

Um dos últimos cavalos criados pelo Haras Gralha Azul foi o bom ganhador clássico (LR) de 11 vitórias – BLESSED VICTORY (Amigoni-IRE e Our Dubai por Roi Normand-USA).

Com o falecimento de Pedro Luiz Nicolau, em 30 de abril de 2024, aos 94 anos, chegou ao fim a criação do agora saudoso Haras Gralha Azul.

Seguramente…

BLESSED FOREVER…

 

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