Semana passada, a convite de Henrique Oliva Neto, em companhia do internacional Mário “Zuca” Márquez, visitei o Haras H.Oliva, em Porto Amazonas. Após percorrer todos os cantos da bela propriedade, fomos agraciados com um delicioso carneiro assado, preparado magistralmente pelo amigo anfitrião. Durante o almoço, as conversas não poderiam distanciar-se muito do assunto “cavalo”. Comentamos como aquela região era privilegiada com clima e terras próprias à criação de cavalos de corrida. Haras Valente e Haras H.Oliva, já retratados em matérias anteriores, nem é preciso comentar, porém não poderíamos esquecer, principalmente eu, de outro centro de criação da mesma região e vizinho aos haras citados: O HARAS NICE de Lineu Ristow!

Vista aérea do Haras Nice
Descendente de família de imigrantes alemães ligados às atividades pecuárias, Lineu Ristow resolveu investir nos negócios dos antepassados e adquiriu 86 alqueires no Município de Porto Amazonas, BR 277 – Km 158 – Trecho Curitiba/Palmeira – para desenvolver a criação de gado e a criação do puro sangue inglês. Assim, fundou em 1967 as áreas constituídas pela Fazenda São Ludovico, nome dado em homenagem ao pai de Lineu Ristow – Ludovico – e o Haras Nice, batizado em homenagem a sua esposa Helli Nice.
A Fazenda São Ludovico desenvolveu seu projeto baseado no gado das raças Charolês e Holandês, obtendo sucesso e sendo premiado em Feiras e Exposições Nacionais com o troféu de Grande Campeão.
Mas como o assunto aqui é cavalo, Lineu Ristow comentava que sua ligação com os cavalos veio com seu avô que foi no final do século XIX, o primeiro cocheiro de diligências das viagens entre Curitiba e Castro. Também com as visitas que fez ao Haras Valente, de Luiz Gurgel do Amaral Valente, se apaixonou pela criação e intensificou a ideia de seu novo empreendimento.

LINEU RISTOW
E o investimento para implantação do Haras Nice foi importante, pois em sua área possuía 30 piquetes, 145 boxes, silos, poço artesiano, 10 residências para funcionários, leiteria, cultivo de milho, aveia e alfafa que deixavam o Haras Nice praticamente autossuficiente na alimentação dos animais.
Com um plantel pequeno de menos de 10 éguas até o final da década de 70, o Haras Nice ampliou o seu plantel na década de 80 chegando a 70 éguas reprodutoras. Também o haras funcionava como pensionato, onde alojava potros e reprodutoras de criadores avulsos do Paraná e outros estados. Por muitos anos, entre outros, os veterinários Ari Salvalaggio e Laertes Pereira prestaram serviços ao Haras Nice.
As duas primeiras éguas adquiridas pelo haras para comporem o plantel de reprodutoras foram PETITE FLEUR (1958 – Bambino-ARG e Zagreb-ARG) e MISS BARYTA (1967- Zumbo e Baryta por Peter’s Choice-IRE). Petite Fleur produziu no Haras Nice o ganhador de sete corridas na Gávea AZULINO por King Charming-GB. Miss Baryta produziu CAPIM GORDURA por King Tourby, que foi um cavalo de propriedade de meu pai com boa campanha no Cristal e Tarumã. Assim, a primeira vitória do Haras Nice como criador nos hipódromos foi com um animal de propriedade de João Carlindo. Aliás, como relatei no início, que justamente eu não poderia esquecer do Haras Nice, tal afirmação procede devido ao bom relacionamento de meu pai com Lineu Ristow, onde fizeram muitos negócios com potros, éguas e garanhões; e também pelas inúmeras vezes em que lá estive.

CAPIM GORDURA – primeira vitória do Haras Nice
KING CHARMING-GB (1958 – King of the Tudors-GB e Windsor Charm-GB por Windsor Slipper-GB) foi um reprodutor adquirido pelo Haras Nice, que produziu 65 produtos ganhadores de 252 corridas.
No Haras Nice, King Charming-GB produziu o líder de geração no Tarumã HALFONSE, também de propriedade de João Carlindo, e os bons ganhadores JET LIGHT (6 vitórias), JET TUDOR (6 vitórias), FANCIFUL (7 vitórias), EXPRESS PACIFIC (5 vitórias) e HELIPORTO (8 vitórias).

HALFONSE (A.Bolino) – Criação do Haras Nice – Lider no Tarumã
Outro reprodutor do Haras Nice, mas que cobriu muito pouco foi o ganhador clássico de 10 vitórias ABDAL (1974- Rhone e Bi Campeã por Milord) que produziu no haras de Lineu Ristow ganhadores de pencas e nos hipódromos como NALASH (7 vitórias) e NICE SIERRA (5 vitórias).
O tordilho Grupo 2 – DECEDEZ (1977 –George Raft-USA e Quarana por Pharas-GB), um irmão materno do craque Clackson foi adquirido pelo Haras Nice para a reprodução em 1986. Decedez teve boa campanha nas pistas obtendo seis vitórias e ótimas atuações nas importantes provas de velocidade do Brasil. Sua produção foi, em sua maioria, destinada às canchas retas. Nos hipódromos teve como destaques o ganhador clássico de 11 vitórias Ki-Tupambaé e os clássicos Lilli-Chanel (8 vitórias), Miss Tuaca (LR), Kepe (5 vitórias), Blabb (6 vitórias), Lins de Barro (11 vitórias), Dust White (4 vitórias) e os bons ganhadores Le Jacks (7 vitórias), Muaythai (5 vitórias), Quiet Princess (6 vitórias), Filão de Prata (12 vitórias), Ótimo (7 vitórias) e Amiga Querida (5 vitórias).

Reprodutor DECEDEZ
Em acordos com meu pai em 1982 e 1983, Lineu Ristow adquiriu dois cavalos de nossa propriedade, após encerrarem suas respectivas campanhas, para reprodução no Haras Nice. Foram eles – BOM MOÇO (1978 – Corpora-USA e Bogotá por Escorial) e EL TATAN (1976 – Leoncito-ARG e Princequigua-ARG por Prince Gary-USA). BOM MOÇO (Grupo 1) correu sete vezes vencendo seis provas e estabelecendo recordes nos 1000, 1600 e 2100 metros no Tarumã. EL TATAN (Grupo 2) correu 23 vezes, obtendo sete vitórias, 13 segundos lugares, e três quartos lugares. Em campanha foi líder de geração no Tarumã (GP Derby Paranaense, Clássico Criadores, Clássico Carlos Dietzsch, etc).
Na reprodução, EL TATAN teve apenas sete produtos corridos entre eles os ganhadores clássicos IVAITATAN e PIRUADA.
Já BOM MOÇO produziu, também em diminuta produção, os clássicos NALARICA (5 vitórias), BOM CARLINDO (9 vitórias), BRISK AT FOOT (6 vitórias) e outros bons ganhadores.
Além de seus próprios reprodutores o Haras Nice criou potros de outros garanhões como Zannuto, Sunset, Principe, Vida Mansa, etc., em cruzamentos estudados por José Maria Pinto Oliveira.
Além de criador, turfista sério, Lineu Ristow foi figura importante no turfe paranaense, ocupando o cargo de diretor da Associação de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida do Paraná na gestão de Willian Mussi, e de vice-presidente do Jockey Club do Paraná na gestão Ubaldo Siqueira (1985/1987) onde implantou o sistema de computação eletrônica.
O Haras Nice funcionou até 1996, mas deixou sua marca na história da criação paranaense merecendo justas homenagens.
Bem… O título jocoso dessa matéria tem relação às estórias que ouvi de um motorista da “Transportadora de Cavalos Miliante”: Certa vez, esse motorista antigo da empresa, após desembarcar alguns animais no Haras Nice, quando saía com o caminhão pelas porteiras do haras – tarde da noite – (pelo que lembro eram três ou quatro porteiras até a rodovia, em que você tinha que descer do carro para abrir as porteiras…) um homem que estava no caminho abriu uma das porteiras para o motorista do caminhão, e se ofereceu para abrir as demais em troca de uma carona até a rodovia. Quase não falava, mas descia do caminhão; abria a porteira; o caminhão passava; ele fechava a porteira e voltava ao caminhão; até chegarem à rodovia. Lá chegando, quando o motorista olhou para o lado para perguntar se ali já estava bom para ele, ou se queria uma carona mais para frente, o homem em questão havia desaparecido como por mágica, numa estória bem similar a da “loira fantasma de Curitiba”. Apavorado, o motorista seguiu viagem e nunca mais aceitou serviços para aquela região, inclusive causando medo nos demais motoristas da empresa que também passaram a ficar receosos quando tinham que entrar no haras à noite, tendo o assunto circulado entre alguns outros conhecidos.
Como veterinário recém formado e bem atuante naquela época, fui chamado, em certa ocasião, para um atendimento emergencial de madrugada naquele haras. Já sabendo da estória, sozinho, em noite enluarada propícia para uma “Hora do Espanto”, segui para o haras onde tantas vezes já tinha estado (de dia…). Abri todas as porteiras para entrar e, depois do atendimento, também abri todas as porteiras para sair – tão rápido que até enganchei e rasguei a camisa em um prego de uma das porteiras. Vigilante, de olhos arregalados, cheguei finalmente à rodovia e como “yo no creo em brujas” pude atestar com toda a certeza que o Haras Nice não tinha nada de sobrenatural como os motoristas tinham alardeado (pelo menos não naquela noite…). Folclores à parte, se há algo especial que lembro dos tempos do Haras Nice, certamente é a natural simpatia, amabilidade e integridade do seu titular – o saudoso LINEU RISTOW.
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