Um “turfista nato” já demonstra a sua paixão pelo turfe, senão ao nascer, desde a mais tenra idade. Isso aconteceu com Arnaldo Toniolo, que já aos doze anos, junto ao seu pai Cecílio Toniollo e alguns amigos, frequentava as corridas do Hipódromo do Guabirotuba, torcendo pelos cavalinhos e fazendo suas pequenas apostas (escondidas de seu pai).
O garoto Arnaldo Toniolo cresceu e seguiu com o gosto pelo turfe. Seu primeiro animal foi a égua BATUTA que lhe foi dada de presente. Com esse primeiro animal, Arnaldo Toniolo teve muitas alegrias vencendo 16 provas no Guabirotuba. Na sequência adquiriu a égua MIRABELLE (1946 – Mississipi-URU e Eira por Benjoin) que foi ganhadora clássica no Guabirotuba.
ARNALDO TONIOLO
Com o sucesso dessas éguas nas pistas, Arnaldo Toniolo resolveu iniciar na criação de cavalos de corridas em 1952, fundando, na sequencia, o HARAS MIRALDO em 1955, ano da Inauguração do Hipódromo do Tarumã, e em sociedade inicial com Belmiro Greca.
O Haras Miraldo estava localizado na Colônia Farias, município de Colombo, região metropolitana de Curitiba em uma área de 27 alqueires, sendo 13 alqueires destinados aos piquetes. Dentro da área ainda foram instaladas 60 cocheiras individuais e outras instalações destinadas ao bom funcionamento daquele centro de criação. Além disso, o haras possuía plantações de aveia, milho e alfafa – sendo totalmente autossuficiente nesses produtos.
Em média o Haras Miraldo mantinha um plantel de 20 matrizes em seus piquetes. Em sua primeira geração criou a clássica e recordista dos 1000, 1200 e 1400 metros no Tarumã – GOLONDRINA.
Alguns reprodutores estiveram alojados no Haras Miraldo como ESCUDO NEGRO (1967 – Levino e Enzima por Dragon Blanc-FR) – cavalo com segundo lugar no GP Cruzeiro do Sul – Derby Carioca, e RIBOSON-GB (1971 – Ribero-USA e Freeholder-GB por Pinza–GB) de propriedade dos Haras Miraldo, Palmital e Mauá.
Escudo Negro produziu no Haras Miraldo, HIJO-NEGRO, clássico Grupo 2 – de 10 vitórias; MACEDINHA, clássica com 5 vitórias; HARIONETTE com 10 vitórias; HOPEFULL-GIRL com 5 vitórias, entre outros.
Riboson é pai dos clássicos de grupo 2 – VAN ANGELA e VAN BALI, o clássico de oito vitórias GRAN-RIBOT, a clássica de nove vitórias GRAN-LINK, os clássicos GRAN CICLONE, KIGAL, JIRALDO, BLUE PRINCESS e os bons ganhadores GILSONE, JANE BRAVA, FURBA, DAVOLINE, CASTELANO, entre muitos outros.
RIBOSON-GB
Além desses o Haras Miraldo também usava os serviços de outros reprodutores como DEBIQUE (1974 – Selenio-ARG e Con Amour-ARG por Yata Nahuel-ARG) do qual detinha 50% de sua propriedade. Debique é pai de GRAN-CACIQUE (1º G3) e AIOROSO (1º G1). No Haras Miraldo produziu NUNSTAR – (10 vitórias – clássico de grupo 3) – IL GARBOSO (10 vitórias) e IL GRACIOSO (8 vitórias); IL HERCULES (8 vitórias), IL BARONE (clássico com 3 vitórias), HIRALDO (6 vitórias); LEFKOS (7 vitórias).
Em vários anos de atividades, o Haras Miraldo produziu bons animais como GLEBA (1959- Draksar e Pompeia por Strauss-URU) que venceu 17 provas no Guabirotuba; PRINCIPE (1968 – Happy Horizon e Krone por Pelele-URU) – Líder de geração na Gávea; SOLDAN (1971 – Piraquê e Havoline por Draksar) – Lider no Tarumã: 1º Clássico Criadores; – ULEMAR (1974 – Twinsy-USA e Palmas por Vallauris) – 1º Clássico Primavera-LR; BIORAMA (1978 – Giant e Havoline por Draksar ) – 1º Clás. Pres. Luiz Alves de Almeida –LR; CAIÇARA (1978 – Líder de geração em CJ e TR); ADUA (1977 – Giant e Botija por Nordic-FR)- clássica de LR; VASADOR (1974 – Carpinus-GB e Bartok por Fort Napoleon-FR – Belo tordilho clássico de grupo 1 com 11 vitórias – um dos melhores velocistas do país em sua época; OLDEST QUEEN (1990 – Robbama-USA e Dark Queen por Tom Poker-USA) – clássica G3; TROVATORE com 10 vitórias; ASTOR (10 vitórias); ONLY BRAVO (11 vitórias); VALENCIO (14 vitórias).
VASADOR (Z.FANTOM) – foto: Arquivo
Mas a “cereja” da criação Miraldo foi, sem dúvida, a líder de geração em três hipódromos URBE (1973 – Giant e Botija por Nordic-FR). Urbe estreou no Tarumã vencendo uma das seletivas do GP Turfe Paranaense de 1976 (700m), chegando segundo na final para Tiasse de Francisco Farias de Souza. Na sequencia venceu o Clássico Criadores no Tarumã (800m). Treze dias depois, estreou em Cidade Jardim com um segundo lugar no Clássico Luiz Alves de Almeida LR (1000m). Após esse segundo lugar Urbe não mais perdeu, vencendo seis corridas seguidas em Cidade Jardim e Gávea: 1º Clássico Presidente João Carlos Leite Penteado LR (1300m); 1º Clássico Presidente Guilherme Ellis LR (1400m); 1º GP João Cecílio Ferraz G2 (1500m); 1º GP Barão de Piracicaba G1 (1600m) e 1º Clássico Firmiano Pinto LR (1800m). E em sua única apresentação na Gávea venceu o GP Henrique Possolo G1 (1600m), fechando sua campanha com oito vitórias e dois segundos lugares em 10 atuações. Essa excepcional égua possuía uma grande torcida que levou várias caravanas de turfistas paranaenses a São Paulo para vê-la correr.
URBE (V.MATOS) – foto:Turfe e Fomento
Levada à reprodução, Urbe produziu sete produtos, entre eles QUENOMAY por Earldom-USA – ganhadora de Grupo 2 e LA JANAÍNA (Right Off-ARG) – Grupo 1 sendo uma das melhores velocistas do país em sua época.
O Haras Miraldo também se destacou nas exposições de potros realizadas no Paraná, vencendo em 14 oportunidades, sendo a primeira, já em 1955, com a potranca MARLUZA (Fair Trader-GB e Mirabelle por Missisipe-URU).
Arnaldo Toniollo teve sua vida ligada ao turfe, sendo apostador, proprietário, criador, diretor do Jockey Club do Paraná, sócio fundador e presidente da Associação de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida do Paraná.
Tivemos um bom cavalo de criação do Haras Miraldo, chamado FLARIOM (1982 – Pepone e Botija por Nordic-FR), que era de propriedade do Stud Afonso Henrique (João Carlindo e Agostinho Silvestre). Clássico de sete vitórias, esse lindo alazão, irmão materno da craque URBE, nos deu grandes alegrias vencendo no Tarumã, Cidade Jardim e Cristal, principalmente pela sensacional vitória em uma prova especial no dia da festa do GP São Paulo de 1985.
FLARIOM (A.Bolino) de criação do Haras Miraldo é seguro por João Carlindo e Jamil João Samara.
Um fato inusitado quase impossibilitou a existência de toda essa belíssima história contada sobre o Haras Miraldo. Em 1959, nos primeiros tempos de sua criação, um raio caiu sobre o haras causando a morte de quase a totalidade dos animais lá alojados. Muitas éguas e potros sucumbiram naquela tragédia, que foi até destaque nos jornais, o que fez com que Arnaldo Toniolo, desorientado e decepcionado naquele momento, decidisse vender o haras e nunca mais pensar em cavalos. Porém, apenas uma semana depois do ocorrido, com o apoio dos vários amigos que fez no turfe e o incondicional amor aos cavalos, Arnaldo reconsiderou a sua decisão para a sorte do tufe nacional; sua resiliência a essa e demais dificuldades da criação de cavalos de corrida, como constatamos, foi recompensada, e com isso pudemos, hoje, relatar mais uma bela trajetória de um grande haras que, embora já desaparecido, deixou a sua marca na história do turfe das Araucárias.
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