Quando algo fora do comum acontece, inicialmente chega a surpresa, e depois, muitas vezes, a incredulidade.   Porém, quando falamos de turfe, e para quem já está habituado a esse tão particular meio, nada mais consegue surpreender por não estar dentro da “lógica”!

Não são poucos os exemplos de haras “pequenos” em tamanho, ou em produção anual, que criaram bons animais. São haras que devido ao amor de seus donos pelos cavalos puderam ser recompensados com o nascimento de craques em suas terras, e que, quando em campanha, conseguiram fazer frente aos animais dos grandes haras – aqueles com maiores recursos disponíveis e mais badalados pela mídia turfística. Lembram do Haras H.Oliva, relatado em matéria anterior, que criando três a quatro produtos por ano “tirou”, entre outros bons animais, o líder de geração ORIENT EXPRESS, vencendo os grandes centros criatórios da época? Sem dúvida esse não seria o único caso.

Há poucos dias falamos sobre a família Gusso, suas ramificações e glórias dentro do turfe brasileiro. Agora, voltamos a citar esse glorioso sobrenome turfístico para retratar mais um pequeno haras que muitas vezes “encarou” e venceu, com pouquíssimos produtos criados, os grandes e fortes haras de sua época, produzindo inclusive um líder de geração! – Trata-se do paranaense HARAS RIO PEQUENO.

                  HARAS RIO PEQUENO

Fundado em 1967 por ROMUALDO GUSSO, também descendente da “linha turfistica Gusso” vindo da Itália; esse haras, localizado em São José dos Pìnhais, região metropolitana de Curitiba, ficava bem próximo ao Haras Paraná Ltda., e aos irmãos criadores Clemente, Humberto e Júlio Moletta. É mais um exemplo de que, mesmo sendo pequeno em área (e pequeno no nome), um haras pode, com trabalho, dedicação e persistência, alcançar o sucesso pela criação de bons animais.

Romualdo Gusso era um sujeito simpático, simples, bom papo, com uma bondade natural e amigo de todos. Conhecido como “Italiano” e também por ser um dos maiores produtores de vinhos da região, Romualdo tinha como características a tranquilidade e a paciência. Essa última virtude fez com que aguardasse alguns anos para ver o seu haras produzir bons animais. Dizia sempre que o amor aos cavalos, a dedicação e sensibilidade eram as chaves na tentativa de obter bons resultados na criação.

Sua pequena área de cerca de 10 alqueires (em dois setores), estava dividida em 18 piquetes, com 25 cocheiras em um setor e 17 cocheiras no outro setor, alojava em média cinco a dez éguas e dois reprodutores. Na supervisão veterinária Dr. Duílio Berleze e Dr. Adilson Menegolo.

Romualdo e seu pai Victor Gusso já frequentavam as corridas, mas começaram a criação de cavalos PSI com a égua CONCÓRDIA (1961 – Silfo e Baby Doll por Dernah-FR). Com a ajuda de ORLEY GUSSO, filho de Romualdo, o Haras Rio Pequeno foi adquirindo novas éguas e investindo na sua chamada criação “caseira”, porém, sempre mantendo o princípio de oferecer todos os seus produtos criados aos vários proprietários existentes na época.

Os garanhões XAMATE (1969 – Garboleto e Xasquita por Nordic-FR), VIRADOR (1971 – Paddy’s Light-GB e Gloire du Midi-FR por Whistler-GB), VOLP (1968 – Coaraze-FR e Classe por Cadir-FR), IZIANE (1976 – Volp e Quexinha por Loconde) e GRÃO DE AREIA (1978- Egoismo e Grã por Mat de Cocagne-FR) foram alguns que serviram ao Haras Rio Pequeno.

XAMATE

XAMATE, cavalo com apenas uma vitória em Cidade Jardim, mas afastado das pistas por problemas locomotores, produziu, logo em sua primeira geração no Haras Rio Pequeno, a craque de Grupo 1 – DAMI (1974 – Xamate e Quexinha por Loconde), que adquirida por Edison José Mauad e Carlos Tadeu Garbuio, estreou com um terceiro lugar na final do GP Turfe Paranaense de 1977 atrás de Querandi e Nareka, para na sequência se transformar numa das melhores velocistas de sua época, vencendo 8 corridas, entre eles os Clássicos Presidente João Tobias de Aguiar (2 vezes) e Presidente Júlio Mesquita em São Paulo. Obteve ainda colocações de grande destaque como o 2º lugar no GP ABCCC-G1 para Gay Clementine.  A destacar a sua estreia em Cidade Jardim, onde venceu por mais de 15 corpos.

Edison Mauad e Carlos Garbuio com DAMI. (Arquivo)

Levada à reprodução, a “pequenina” DAMI foi a responsável pela fundação do Haras Xará, sendo durante toda a sua vida, uma das principais éguas do plantel do Haras Xará, de propriedade de Edison José Mauad.

Outros produtos de destaque criados pelo Haras Rio Pequeno e também filhos de Xamate foram: – a campeã de pencas HASIALÁ que venceu cinco provas em hipódromos oficiais e dez provas em hipódromos não oficiais, os clássicos ATTA HORSE (LR), ZUBIA (Clássico Primavera), ALKALINE, KICOLOMBO, e muitos outros bons ganhadores.

   DAMI estreando em CJ (foto:Arquivo)

O Haras Rio Pequeno criou outros ganhadores como a clássica HARISH, GREEN GOLD, GRUTA AZUL, HETERA, IDEAR, ESPARTO, EDREMIT, BACARAÍ, EREGENAL, CANDELÁRIA, FILANDRO, CIRANITA, CATAGAR e muitos outros.

Em 1979 nascia no Haras Rio Pequeno o potro IZIANE (Volp e Quexinha por Loconde) – um irmão materno da craque DAMI – e que em campanha foi um dos líderes de geração no Tarumã e em Cidade Jardim. De propriedade do Stud Marea, treinado pelo saudoso Silvio Batista Piotto, IZIANE estreou no Turfe Paranaense, vencendo a seletiva e chegando quarto na final para Flying Dulce, Great Lover e Caiçara. Na sequência, sob a direção do jóquei Antônio Carlos Cassante, venceu três corridas seguidas, entre elas o Clássico Presidente Herculano de Freitas e o Clássico José de Souza Queiróz em Cidade Jardim tornando-se líder de geração em Cidade Jardim na grama e na areia. Após alguns períodos recorrentes de inatividade para recuperação de problemas locomotores, IZIANE encerrou precocemente a sua campanha com cinco vitórias.

                 O líder IZIANE (foto: Arquivo)

Retornando ao Paraná para servir como reprodutor, IZIANE produziu apenas 20 produtos sendo a maioria de ganhadores, entre eles o clássico no Tarumã Que Horse.

Em 1983, Orlei Gusso requereu e obteve a sua matrícula de treinador no Tarumã, passando a treinar os potros de sua criação e propriedade. Trabalhou na função durante alguns anos, gozando de boa credibilidade e amizade dos proprietários e colegas de profissão.

Após o falecimento de Romualdo Gusso, o Haras Rio Pequeno, agora sob o controle total de Orlei Gusso, seguiu criando seus poucos potros por mais alguns anos, até que com o falecimento de Orlei em 2010 teve fechadas definitivamente suas porteiras à criação do cavalo de corridas.

Essa outra história de um haras “pequeno” criando craques, mostra que o turfe é encantador, fascinante e envolvente. Todos – sejam grandes ou pequenos criadores – a cada nova geração nascida, ficam esperançosos que o futuro seja promissor, visto que, sem dúvida, isso pode acontecer! Seguramente veremos fatos como esse em outras oportunidades, pois um grande cavalo – não necessariamente – precisa ter nascido em um grande haras.

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