Raramente podemos considerar os  seguimentos de um haras dentro de uma continuidade familiar. Mas no caso do HARAS CIFRA, o turfe brasileiro tem a sorte de conviver com um centro de criação do PSI, onde gerações diferentes – pai e filho – com paixão e grandes investimentos, sempre buscaram o desenvolvimento de sua atividade, colaborando para o engrandecimento do turfe brasileiro.

O empresário CIRO FRARE, nascido em 18 de maio de 1937, era um turfista nato. Seu hobby principal era mesmo o turfe. Vivia intensamente e diariamente os cavalos, sendo frequentador assíduo do Hipódromo de Uvaranas, em Ponta Grossa, e o Hipódromo do Tarumã em Curitiba. Também frequentava Cidade Jardim, onde igualmente possuía um grupo de cocheiras próprio. Ciro foi uma unanimidade no turfe paranaense e um “protetor” do Jockey Club do Paraná, sempre presente quando este, em momentos difíceis, precisava dele. Não à toa é homenageado anualmente com a realização do Clássico Ciro Frare no dia do GP Paraná.

Ciro ocupou o cargo de presidente da Comissão de Corridas do Tarumã, na gestão de Ubaldo Siqueira. O conheci de perto e embora amigo de todos os profissionais, era duro e exigente quando o assunto significava manter o Jockey Club do Paraná “nos trilhos”. Porém, nunca deixou de ajudar a todos que o procuravam.

                  CIRO FRARE

No início, apenas como proprietário, Ciro Frare era um ativo comprador de cavalos. Os animais comprados por ele eram mantidos com vários treinadores e corriam defendendo o Stud Fusca, isso no final da década de 60 e início de 70. DON TAURUS, BONNY PRINCE, PLINIO, QUILOTA e KIDDER foram alguns de seus defensores. Na sequencia manteve muitos animais em seu próprio nome físico, como NAILA, JOLIZ, BELO ANTONIO, KORIYAMA, ERVILHA, DON JANGUITO, SILVER SHADOW e a clássica e recordista dos 2000 metros no Tarumã – HEL (Queisto e Dona Gentil por Bols-URU). Nessa mesma época lembro que meu pai lhe vendeu, ainda potro, o LEGADO (Valdeville e Arbelle por Aristocles-GB) que venceu cinco corridas inclusive o Clássico Dois de Dezembro no Tarumã.

            KIDDER do Stud Fusca (1970)

               HEL de Ciro Frare (1974)

Na década de 80, Ciro Frare registrou o Stud Índio Velho, junto com Gabriel Pires Neto, e com farda idêntica à atual do Haras Cifra. Este Stud possuía vários cavalos e cujas primeiras vitórias vieram com a clássica ESSÊNCIA NEGRA; depois ainda GILSONE, MAREVITA. e outros.

     MAREVITA – do Stud Indio Velho (1985)

Em 1988, CIRO FRARE adquiriu uma área em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, fundando o Haras Cifra; batizado desta forma pela sugestão de seu filho Alexandre . O primeiro potro a nascer no haras foi ARONIDES (1989- CavoD’Oro-IRE e Pilotage por Sahib-USA) vencedor de 5 provas (CJ-GV) – uma homenagem a seu amigo turfista Aronides Raicoski.

Mesmo passando à condição de criador, Ciro Frare continuou sendo um importante comprador. BELO COLONY (1994 – New Colony-USA e Bella Mahal-USA) de criação do Stud Maran foi um grande defensor das cores do Haras Cifra, onde obteve 15 vitórias (13 CJ e 2 TR) inclusive G2 e G3 com 2º em G1.

                     HARAS CIFRA

Também importou fêmeas yerlings, como a canadense LONDRINA (94- Vice Regent-CAN e Play Around Honey-USA por Exclusive Native-USA) que obteve seis vitórias (G3). As americanas CURITIBA (94 – Sheikh Albadou-GB e River Mystery-USA por Riverman-USA) invicta em sete corridas (G2); e também a clássica de Grupo 1 – BELA CIFRA (93 – Secreto-USA e Make Smoke-USA por Saratoga Six-USA) de oito vitórias defenderam a sua farda.

O Haras Cifra já nas primeiras gerações criou bons animais como os clássicos HARD KIT (G3); JODIE (G1); FAST LEAF (G3); NOVO DIA (G3); LAGOA AZUL (invicta – G2) e ENGUALICHADA (Hostage-USA e Essencia Negra por Pass the Word-USA) que foi o primeiro animal de criação do Haras Cifra a vencer uma prova de Grupo 1 (GP OSAF-CJ).

     LONDRINA já na reprodução

Três dos responsáveis pelo sucesso do Haras Cifra no seu início, e que merecem destaque, foram Dr. Luiz Henrique Novaes Ferreira da Costa (veterinário), Dr. Pedro Vicente Michelotto Júnior (veterinário) e Nelson Portela (treinador).

Infelizmente em 24 de junho de 2004, Ciro Frare faleceu deixando uma enorme saudade naqueles que o admiravam. Uma vida breve, porém um legado eterno… A família Frare seguiu com o Haras Cifra, administrado agora por Alexandre Zacarias Frare, não só mantendo o mesmo padrão clássico, mas com um avanço extraordinário em resultados importantes.

Muitas vitórias de grupo foram vencidas pelos animais do Haras Cifra que, ano após ano, geração após geração, vem apresentando craques ao turfe nacional.

ALEXANDRE ZACARIAS FRARE

Lembrando rapidamente de alguns campeões do Cifra (onde certamente vou esquecer-me de outros, já que são tantos os craques) cito: ALTA VISTA (G1 – Líder, 1º Diana, 1º Barão de Piracicaba); ATACAMA (G2); DALTIVA (1º G3); GALANG (G1); GRAND AMIGA (G1 – 1º GP Paraná); GALOPE AMERICANO (G1 – 1º Derby Paulista); GREAT VISTA (G1); HASSAN (G1); TERRA BRASILIS (G2); HEMBRA (G1 – 1º Barão de Piracicaba); ITAGIBA (G1); ITAPERUNA (G1- 1º GP ABCPCC, 1º GP Maroñas G2); ITAMBÉ (G2); JOBSTER (G1); LORENZ (G3); LAMBERT (G3); LOMAR (1º G2); LOT OF CONTROL (G3); LUCKY SOUL (G1); NUSA DUA (G1 – 1º GP Diana); NOLASKO (1º G2); NEW ORDER (G1); OUTRA HEMBRA (G3); OUTRA VISTA (G1 – 1º GP Barão de Piracicaba); OTONIEL (1º G2), OPAZO (líder – 1º Ipiranga G1); ORYX (líder – 1º G1), entre outros, sem esquecer daquele que é considerado por muitos como o melhor animal criado pelo Haras Cifra até o momento… HALSTON (líder – 1º Ipiranga G1, 1º Derby Paulista G1, 1º G3 Hong Kong).

HALSTON  – Um craque. (foto: Marília Lemos)

Por todo esse resultado, méritos também ao veterinário Dr. Mauricio Pontarolo, que segue há vários anos trabalhando incessantemente para a melhoria da já excepcional criação Cifra.

Vários produtos do Haras Cifra, pelas suas ótimas campanhas no Brasil, foram vendidos e exportados. São os casos de CURITIBA, GALOPE AMERICANO, HALSTON, LUCKY SOUL, ITAPERUNA, ORYX e OPAZO. Acredito que seja um dos haras que mais exportaram seus produtos.

LUCKY SOUL (G1) –Exportado para a Ásia (foto: Felipe Neves)

Portanto, uma administração muito profissional de Alexandre Zacarias Frare que levou o Haras Cifra a grande destaque no turfe brasileiro. Paralelamente, Alexandre mantém o Stud Galope que, como seu pai, adquire potros de outros haras e seguidamente está vencendo provas importantes. Em tempo… no Troféu Pinheiro de Ouro do turfe paranaense em 2024, dado aos destaques do ano, o binômio Cifra/Galope levou os prêmios de Melhor Criador, Melhor Proprietário, Melhor Velocista (Legender), Melhor potro da geração 2021 (Oryx) e Melhor Veterinário (Dr. Mauricio Pontarolo).  Certamente prêmios justos e merecidos.

Como sempre gosto de relatar algum fato curioso relacionado a mim com os personagens que procuro homenagear, destaco dois deles. O primeiro foi no início de 1990, quando Ciro Frare adquiriu de meu pai o animal KNIGHT HOOD que acabara de vencer o GP Turfe Paranaense em recorde. Foi uma ”mala de dinheiro” o valor que foi depositado no banco; infelizmente apenas um dia antes do anúncio do Plano Collor que bloqueou todo aquele numerário, ficando meu pai sem o cavalo e sem o dinheiro. Alguns meses depois, Ciro pediu que meu pai aceitasse o cavalo de volta já que Knight Hood e o treinador Nelson Portela não estavam “se entendendo”, e, como um verdadeiro gentleman, disse que o dinheiro poderia ser devolvido quando meu pai achasse melhor. Como eram bons amigos, ele, é claro, aceitou – e trouxe o Knight Hood para casa, pois certamente João Carlindo e Knight Hood “falavam a mesma língua”..., e com isso o transformou num dos grandes velocistas do país – (2º GP Major Suckow G1, GP Proclamação da República G1, Copa ANPC Velocidade G1), negociando-o posteriormente e novamente por alta soma.

A segunda relação me leva a citar o privilégio que Alexandre Frare me proporcionou, ao entregar-me quatro animais de propriedade do Haras Cifra para treinar (algo ainda inédito em minha carreira). Recebi os “desacreditados” HOLGER e HASSAN que estavam na Gávea; e os potros LUCKY SOUL (chucro) e LAMBERT (voltava de cura). Creio que, apesar de “certa e inegável torcida contra”, e dentro da minha humildade, não fui mal na empreitada já que todos os quatro venceram corridas e com belas atuações em provas graduadas: Lucky Soul (2º G1), Lambert (1º LR), Hassan (3º G2) e Holger (4º LR).

    LAMBERT (foto Porfirio Menezes -JCSP)

Enfim, são gratas lembranças de fatos com pessoas que muito respeito, não apenas pelo seu sucesso no turfe, mas certamente por suas atitudes dentro e fora dos muros do hipódromo. Em sua empresa ou no jockey club, pai e filho do Cifra sempre me ajudaram e pelos quais expresso minha sincera gratidão!

Que o sucesso do Haras Cifra continue sempre em ascensão, o que certamente ocorrerá, pois o CIFRA já provou que “nada é tão bom que não possa melhorar”.

galopando.com.br

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