Não, não… Para a tranquilidade dos “coxas-brancas”, não vamos falar do Clube Athético Paranaense – grande clube do futebol brasileiro, fundado em 1924; mas sim do Haras Bom Pastor – que foi o criador do cavalo PSI – clássico e recordista – chamado ATLÉTICO, nascido no Paraná em 1972.
ATLÉTICO
Minha ligação com esse haras, de propriedade do industrial Cyro Pellizzari, começou em 1973, quando meu pai “pendurou o chicote” em Cidade Jardim, e veio para Curitiba “de mala e cuia” – trazendo toda a família. Nesse mesmo ano já instalou no Município de Quatro Barras o seu “Haras J.C.”, que tinha o propósito de recriar potros desmamados, adquiridos de outros haras. Os primeiros que adquiriu foram justamente os potros do Haras Bom Pastor. Assim, minhas visitas àquele local eram frequentes na companhia de meu pai.
Cyro Pellizzari
O Haras Bom Pastor despontou em 1970, no Município de São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, no quilômetro 24 da Rodovia Curitiba – Joinville. Sua área compreendia dois espaços cortados pela rodovia. Do lado esquerdo da rodovia uma área de 17 alqueires, onde estava instalada a sede, piquetes, cocheiras, além de quatro maternidades, duas farmácias e um majestoso picadeiro coberto. Já do lado direito da rodovia, a área era de 75 alqueires com sete piquetes e ferraria própria. Em seu total o haras abrigava 18 casas de funcionários e 106 cocheiras; tudo interligado por interfones.
O espaço também era privilegiado pela natureza, com belos lagos, bosques e áreas de lazer. Idealizador do haras e no comando veterinário estava o Dr. Heliodoro Duboc, depois chegou o Dr. Murilo Nichele; e na gerência estava a competência de Roberto Grochoski.
O Haras Bom Pastor mantinha um lote médio de 30 reprodutoras nacionais e argentinas – estas importadas já prenhas.
Haras Bom Pastor
Como reprodutores, o Haras Bom Pastor mantinha: GALESIAN-GB (1966-Milesian-GB e Lovely Gale-GB por Wind City-GB), pastor chefe, que produziu animais velozes como a “lenda” das canchas retas I’M SENSATIONAL (conhecida por Dona Rosa), o vencedor do Turfe Paranaense de 1979 – ELVIC, os ganhadores clássicos EL CÍCERO, FLICTS, LORD GALESIAN, entre outros. QUEISTO (1960-Lucidon-FR e Lousiane por Teleferique-FR), pai dos recordistas HELL e BOB FIELDS, e dos clássicos Gianfranco, Gianmarco, Gianino, Faix, Fidelus e Bril. Também serviram no Haras Bom Pastor, VIVAT REX-GB (1962-Vimy-FR e King’s Well–GB por Nasrullah–ENG), pai do clássico de Grupo 1- BALLUX. Também o clássico Grupo 3 e recordista de vitórias (24) DON TIBAGI (1969-Don Bolinha e Dama da Noite por Bambino-ARG), pai da campeã de pencas DONA MISS e do clássico JOLIPO; e o Grupo 1 – OAGI (1972-Cigal-GB e Morning Flight-GB por Primera-GB), pai do bom ganhador ISFER, foram garanhões no haras.
Dois dos primeiros animais de destaque da criação Bom Pastor foram RED POWER (1971 – Milord e Rendeira por Stavanger-GB), 2º na primeira penca do Tarumã – GP Primeiro Centenário – e líder de geração em Cidade Jardim; e NEO REX (1971 – Vivat Rex-GB e Nebraska por Fair Trader-GB), Derby Winner e líder de geração no Cristal.
NEO REX com J.Carlindo e Roberto “Tajarim” Fº.
Já na primeira geração seguindo o alfabeto (1972), o Haras Bom Pastor produziu bons cavalos, como APOLLYON (Milord e Guaxinduva por Aram-FR), líder de geração no Tarumã; – e dois que, vendidos desmamados, foram recriados pelo nosso “Haras J.C.”: – aquele que é o “título dessa matéria”- ATLÉTICO (Aerolito–ARG e Provexi–ARG por Luxemburgo–ARG) – bravo e temperamental que, comercializado ao hipólogo Atílio Irulegui, venceu entre outras provas, o GP Oswaldo Aranha – G3, na Gávea, e sendo por muito tempo, o recordista dos 2000 metros na areia de Cidade Jardim. Também o “Malacara” ARIÃO (Anselmo-GB e Mary Clara-ARG por Snow Cat – GB), que apesar dos muitos problemas locomotores, foi muito bom ganhador. Ambos, importados no ventre e que, após encerrarem suas campanhas, foram para a reprodução.
APOLLYON – com João Carlindo e Cyro Pellizzari.
A geração “B” do Haras Bom Pastor produziu o clássico e recordista (até hoje) dos 1000 metros na areia de Cidade Jardim – BOB FIELDS (Queisto e Provexi-ARG por Luxemburgo); também as clássicas BARA (Cigal-GB e Nebraska por Fair Trader-GB), BRIL (Queisto e Lileta por Brave Buck-GB) e o bom ganhador nas retas e no prado BEROT (Galesian-GB e Junca por Corregidor-GB).
Na geração “C”, meu pai comprou do haras a boa penqueira CANDELA. Na geração “D” ficamos sócios de 50% de toda a produção do Haras Bom Pastor: – DIGNIDAD, DE COLORES, DRAGS, DOS DE ORO, DING, entre outros – todos penqueiros e bons ganhadores no prado. E na geração “E” a sociedade ficou em 100% da produção. Essa geração de 1976 teve um ótimo resultado, pois nela estavam ELVIC (1º no Turfe Paranaense), EL TATAN (G2 e Derby Winner Paranaense), EL CÍCERO (Clássico), ESPIRITUAL (Clássico), ELVIRA POWER (campeã de pencas), EL JÚLIO e EL PARANÁ (bons ganhadores).
ARIÃO – Importado no ventre foi reprodutor
Além da sociedade em produtos do haras, Dr. Cyro Pellizzari e meu pai também foram sócios, até final de 1978, em outros bons cavalos, como a argentina clássica e três vezes recordista DAME MÁSCARA, e os também clássicos e recordistas BACCO e GALEGO, que venceram muitas provas com a farda da sociedade “branca, cintas e braçadeiras verdes e vermelhas”.
DAME MÁSCARA na estreia em CJ
Com linda cocheira própria no Tarumã, o Haras Bom Pastor manteve, então, a partir do término da sociedade com João Carlindo, as gerações “F” em diante com o treinador Ivo Pellizzari, primo de Cyro, vencendo também boas corridas com sua farda azul, mangas, estrela e boné ouro.
A última geração criada pelo Haras Bom Pastor nasceu em 1983, tendo esse importante estabelecimento de criação “fechado suas portas” logo após o trágico falecimento de seu titular.
Estive visitando o antigo Haras Bom Pastor há dois anos. E, como se tivéssemos parado no tempo por 50 anos, a área da esquerda da rodovia continuava exatamente a mesma dos tempos de outrora, com os mesmos piquetes, sede, cocheiras e demais instalações, tendo sido utilizada pelos herdeiros para a criação de cavalos de outras raças. Já a área da direita da rodovia teve outras finalidades, onde por muito tempo funcionou um grande hotel de propriedade da família Pellizzari.
Sem dúvida Cyro Pellizzari, de saudosa memória, deixou uma grande lacuna no Jockey Club do Paraná com o seu precoce desaparecimento. Também guardo uma lembrança inesquecível desse ótimo e bravo ATLÉTICO, pois a cicatriz que deixou em meu ombro me faz lembrar – todos os dias – da primeira mordida que levei de um cavalo!
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Parabéns pela matéria Carlos César!