Sábado de sol, peguei uma rodovia por onde há muito não passava – e fui seguindo o caminho em direção à chácara do meu conhecido Colégio Marista Santa Maria, em Almirante Tamandaré, região Metropolitana de Curitiba, onde participaria de um evento.
Ao chegar ao belo portal da chácara e aguardando a liberação de entrada, o “botão” da nostalgia foi imediatamente ligado quando olhei para o outro lado da estrada e vi, bem na minha frente, o portão do antigo e glorioso Haras Tamandaré, onde tantas vezes estive visitando o local.
Localizado em local privilegiado pela beleza, esse haras, de propriedade de Alcides Coltri e Rubens Grahal, marcou época no turfe nacional dos anos 60 aos anos 90. Com área de 100 alqueires de belas e férteis terras, o haras teve excelente conceito no turfe brasileiro pela maneira caprichosa como criava seus produtos. Nada faltava ou era de má qualidade para garanhões, éguas e potros. Assim, o haras teve ótimos resultados sempre produzindo animais de categoria.
Alcides Coltri Rubens Grahl
Sua área compreendia 22 piquetes de boas pastagens, 60 cocheiras, uma pista de areia de 1100 metros, partidor automático, além de todas as demais instalações necessárias ao seu bom funcionamento. Faziam parte do plantel de reprodutoras mais de 50 éguas nacionais, americanas, argentinas, chilenas e inglesas. Na gerência Augusto Menegolo, depois José Bacil e na coordenação veterinária bons profissionais atenderam o haras, entre eles Dr. Alceu Athaide, Dr. Heliodoro Duboc, Dr. Adilson Menegolo, Dr. Ovídio Garcêz Neto e Dr. Romildo Romualdo Weiss.
LONG LEGS (1952), filho do francês Antonym na inglesa Hockeridge, foi um dos primeiros reprodutores incorporados ao haras, que com apenas 14 produtos corridos produziu 12 ganhadores de 33 corridas.
Haras Tamandaré
Na sequencia o Haras Tamandaré adquiriu do Haras Jahu e Rio das Pedras o clássico MASTERÉU (1962) – (Adil e Scottish Dilema-GB), já com sete anos e 10 vitórias, que após ser curado de uma grave lesão de tendão, venceu outras 13 corridas, culminando com o GP Paraná de 1969, em recorde. Levado à reprodução, produziu logo em sua primeira geração LENDÁRIO (1972) – 13 vitórias – campeão da Taça de Ouro G1 na Gávea.
Rubens Grahl e Alcides Coltri com MASTERÉU – vencedor do GP PR 69.
Surgia logo depois, na criação do Haras Tamandaré, INDAIAL (1969) – campeão e recordista – filho de Xasco e Teiga por Al Mabsoot –IRE, que obteve 14 vitórias – 1º GP Presidente da República – G1 (GV) e considerado o melhor milheiro do Brasil em sua época; mais tarde também incorporado como reprodutor no Haras Tamandaré, onde produziu ganhadores de 256 corridas, incluindo os clássicos Durona, Trezel, Roy Black, Indaialíssimo, Rica Rainha, Xaruma, Uchoco, Uymaik, Todium, Amor Apache, Account, Quenfoi, Quitter, entre outros.
Indaial – Campeão milheiro do Brasil.
Logo a seguir o haras tirou outro ótimo cavalo chamado OPALELÊ (1975) – Malambo (ARG) e Amuck (ARG) por Tatan (ARG) – que venceu clássicos em Cidade Jardim, onde ficou invicto em quatro atuações, e obteve dois ótimos segundos lugares na Gávea (GP Taça de Ouro-G1 para African Boy e GP Estado do Rio de Janeiro-G1 para Aporé) em apenas seis atuações em sua campanha. Também incorporado como reprodutor, Opalelê produziu entre outros os clássicos VINHÃO (14 vitórias – G1) e ERGURA (6 vitórias – LR).
VINHÃO – Um dos muitos clássicos do Haras Tamandaré
Uma égua de grande destaque da criação do haras foi a clássica velocista de oito vitórias NAREKA – favorita do GP Turfe Paranaense de 1977, sendo 2ª colocada para Querandi na final – filha de Commendatore–ARG e Andree–ARG por Malambo–ARG. – (importada no ventre).
Casal Adélia e Alcides Coltri na foto com a velocista NAREKA
Embora o haras mantivesse cocheira própria no Tarumã, o treinador principal e responsável pela campanha dos animais do Haras Tamandaré era Eduardo Gosik, em Cidade Jardim. O “Mestre” sempre foi grande amigo e conselheiro dos titulares do haras.
Um fator importante a considerar estava no fato de que todos os produtos do Haras Tamandaré permaneciam de propriedade do mesmo – não sendo vendidos, pois Alcides Coltri e Rubens Grahl acreditavam na importância de vê-los nascer, crescer e correr com sua farda. Porém, Alcides e Rubens eram também bons compradores de potros selecionados. Entre eles, adquiriram do “olho clínico” João Carlindo – o ganhador clássico QUANTRELL (14 vitórias – grupo 2), EXEKUTOR DA LUA (10 vitórias – clássico), ALANTO (9 vitórias – recordista clássico), CLEMMSON (8 vitórias – grupo 3), GAINFOL (1º GP Turfe Paranaense), KATONGA (8 vitórias), entre outros.
A última geração criada pelo Haras Tamandaré nasceu em 1991 onde estava o ganhador clássico HOTMANN (14 vitórias – 2º no GP Juliano Martins G1 e 2º na Taça de Prata G1).
Em 29 e 30 de maio de 1992, em duas noites de muita chuva, o lotado tattersal da Associação de Criadores do Paraná recebia o leilão de liquidação do Haras Tamandaré, onde foram comercializados pelos leiloeiros Francisco Carlos Ávila e José Luiz Lobo Neto, todos os 107 animais do catálogo. Desta forma, terminava ali a história deste glorioso haras. Rubens Grahal ainda permaneceu por alguns anos como proprietário individual, inclusive vencendo o GP Paraná de 1997 com INNAMORATO.
Capa do catálogo do leilão de liquidação do plantel
O Haras Tamandaré foi, então, desativado e sua área posteriormente se tornou um “QG” da Cavalaria da Polícia Militar do Paraná. Hoje o local faz parte do Parque Ecológico Aníbal Cury, onde poucas construções remanescentes do haras permanecem como pequenas lembranças dos seus tempos de glória.
O leitor poderia estar se indagando agora, o porquê do título desta matéria: – “O Haras das Pirâmides”.
Na verdade, quem conheceu esse haras sabe do que se trata: – Alcides Coltri e sua esposa Adélia, como muitas outras pessoas, tinham em sua convicção ou crença (a qual respeito…) que as pirâmides seriam grandes fontes de energia. Assim, mandaram construir, em alguns pontos do haras, pirâmides de concreto para “energizar” o local – e uma pirâmide principal de aproximadamente três metros de altura, localizada próxima das principais instalações onde, segundo relatos de funcionários do haras, eram colocados em seu interior, por um tempo determinado, potros recém-nascidos – e que logicamente seriam “energizados” por essa pirâmide, proporcionando saúde, força e vitalidade aos animais.
Se acredito nesse princípio das pirâmides?
Embasado nas centenas de vitórias obtidas pelos animais do Haras Tamandaré… certamente que SIM!
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Compartilho as mesmas memórias. Um local mágico!
Obrigado pela aula de história do nosso Turfe
Estava iniciando minha carreira como Leiloeiro e tive a oportunidade de participar desse grande Leilão.