A história da criação do cavalo puro-sangue de corridas no Paraná teve início no século passado. Atualmente pelo sucesso dos produtos oriundos de nosso estado, nos dois grandes centros turfísticos do país, o Paraná é considerado por todos como região ideal para a criação de cavalos. Mas, Thomaz Rabello, autor do livro “História do Turfe no Brasil” editado em 1901, já proclamava o Paraná como um dos futuros centros de criação: “O Estado do Paraná, evidentemente um dos mais opulentos em riquezas naturais, pode-se reputar o porta-joias da União Brasileira. A fertilidade de seus campos, a abundância de suas águas que jorram de cachoeiras, a amenidade do clima e a densidade de suas florestas são elementos extraordinários para formar um poderoso erário. Não nos é dado nestas toscas linhas, consagradas exclusivamente a um fim, inventariar os seus enormes tesouros; e, por isso, limitamo-nos a indica-lo como um dos territórios mais adequados a criação pastoril, e, portanto a espécie equina.
Preferimos apontar fatos para basear nossa persuasão, do que deduzir asseverações isoladas de exemplo; damos testemunhos de que vimos numerosos animais de boa qualidade, crias daquele estado, que nos infundem a crença de que a indústria em questão se fosse alii implantada e mantida com persistência, bem lisonjeiros seriam os resultados a colher”.
FERNANDO SCHNEIDER
Thomaz Rabello, em 1901 fez uma previsão extraordinária. A criação do cavalo puro sangue de corridas, atualmente, é uma verdadeira indústria, com grande importância pelo aspecto econômico. É justo, no entanto, que se destaque o homem que primeiro acreditou nas afirmações de Thomaz Rabello, organizando o primeiro grande haras do Paraná: FERNANDO SCHNEIDER.
Thomaz Rabello, em seu livro comenta o seguinte: Fernando Schneider tendo levado desta capital, em 1986, o cavalo Fanfarron, que tantas vezes apareceu nas pistas fluminenses, bem como algumas éguas de puro sangue, iniciou seu haras; aumentando mais tarde com quatro garanhões: Gold Master, Plutão, The Money, Possomby e mais algumas reprodutoras. Com tais elementos formou a Coudelaria Nacional do Paraná. Com a fundação dessa Coudelaria tinha-se em vista não só facilitar, pelos garanhões, a fecundação das éguas dos colonos, polacos, alemães e italianos dos arredores de Curitiba e outras localidades do Estado, como também originar o cavalo mestiço para remonta das tropas”.
CARLOS DIETZSCH
No início deste século, quando o haras do Sr. Fernando Schneider, localizado nas proximidades da atual Rua Comendador Araújo, na altura da Rua Coronel Dulcídio, começou a diminuir as atividades, surgiram outros criadores, entre os quais Carlos Dietzsch, com seu haras no Portão, para dar continuidade a indústria da criação do cavalo puro sangue no Paraná. E Carlos Dietzsch, logo no início, criou um extraordinário cavalo: Diamant (1910), um filho de Premier Diamon e Miruca (égua argentina), que conseguiu 12 vitórias no Rio de Janeiro, sagrando-se bicampeão dos grandes prêmios “Major Suckow” e “Seis de Março” (1913-1914) e além de outras provas importantes venceu o “Grande Prêmio Expositores” de 1913.
ANTÔNIO REIS DOS SANTOS FILHO
Além de Fernando Schneider e Carlos Dietzsch, Antônio reis dos Santos Filho também ganhou destaque no cenário nacional no final do século XIX e início do século XX. Outros, no entanto, também contribuíram para a “elevage” do Paraná, comprando reprodutores e reprodutoras estrangeiras de alto valor.
Para que todos tenham uma perfeita ideia do início da criação do cavalo puro sangue em nosso Estado, apresentamos em seguida a relação dos primeiros cavalos puros paranaenses, que constam do primeiro Volume do Stud Book Brasileiro – Histórico do Puro Sangue no Brasil:
VERGISSMEINNICHT, por Goldmaster e Grinshild em 1885, de criação do Sr. Carlos Weigert; LUCKY BOY, por Fanfarron e Saphiara (égua francesa), do Sr. Fernando Schneider, ASCOT (1888), por Torncoot e Ascot (égua inglesa) do Sr. Antônio dos Reis Santos. Ainda em 1888 foram registrados mais alguns paranaenses: JOINVIILLE e DOLLAR, do Sr. Fernando Schneider, e HERMIIIT do Sr. Antonio dos reis dos Santos.
Em 1889 foram registrados três puros do Sr. Fernando Schneider: MANDRÁGORA, ILLUSION e SINGULAR.
No anos de 1890 foram registrados dois animais do Sr. Antônio Reis dos Santos Filho: CONSPIRADOR, por Plutão e Ascot (égua inglesa), e DONA STELLA, por Plutão, que foi talvez o primeiro animal paranaense que conseguiu destaque nacional. DONA STELLA conseguiu 34 vitórias no Rio vencendo o grande Prêmio Nacional e o Grande Prêmio Derby Clube em 1893.
Em 1898, o Sr. Fernando Schneider conseguiu a medalha de ouro na Exposição realizada no Rio, com MINERVA, uma filha de The Money e Mina (égua inglesa), nascida em 1895.
ECLYPSE, um filho de The Money e Purytan, de criação do Sr. Fernando Schneider, depois de conseguir a medalha de ouro na Exposição, venceu muitas corridas no Rio, entre as quais os GGPP Guanabara e derby Club.
DIAMANT (1910), um filho de premier e Miruca, de criação do Sr. Carlos Dietzsch, marcou o início da atividades do haras que mais se destacou no princípio do século XX. Diamant conseguiu muitas vitórias no Rio, sagrando-se bicampeão dos grandes prêmios “Seis de Março” e “Major Suckow”.
INVASOR DO PARANÁ (1914), por Premier Diamond e Virago, venceu os GGPP “Brasil”, “Progresso” e “Itamaraty”, colocando em destaque a criação do Sr. Carlos Dietzsch no cenário nacional.
Outros paranaenses criaram animais puros, mas temos a impressão que os três primeiros grandes criadores do Paraná que conseguiram destaque nacional foram: FERNANDO SCHNEIDER, ANTONIO REIS DOS SANTOS FILHO e CARLOS DIETZSCH.
(Matéria publicada no Jornal “O Estado do Paraná” em dezembro de 1974 e de autoria de Raphael Munhoz da Rocha).