Conseguir vencer um Derby Paulista é objetivo de vários criadores; tarefa de alguns, porém uma glória alcançada por poucos. Agora, vencer duas vezes, em anos seguidos, a prova que seria a consagração maior para qualquer criador, é realmente um feito extraordinário.

Fundado em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, o Haras Rio Verde foi um dos mais bem sucedidos centros criatórios do Paraná, entre as décadas de 60 e 80.

Seu idealizador e titular William Haj Mussi foi fundador benemérito da Associação de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida do Paraná, entidade da qual também foi seu presidente.

O Haras Rio Verde ocupava área privilegiada de 240 alqueires, com 20 piquetes de pastos de alta qualidade, 70 cocheiras de alvenaria, maternidade, sala de cirurgia, e demais instalações, o que beneficiava uma criação altamente gabaritada. Possuía em média um plantel de 25 matrizes.

Criando suas gerações desde 1964, Willian Mussi iniciou com apenas cinco éguas. O seu primeiro reprodutor foi FINELO (1956 – Coaraze e Finfinella por Tintoretto-GB) que morreu deixando apenas quatro produtos. Apostou então no reprodutor CÓDIGO (1959 – Swallow Tail-GB e Oélia por King Salmon-FR), tendo produzido em poucas gerações os clássicos FLOR RIO VERDE, GAROTA RIO VERDE, FORTE APACHE, DON ROBERTO, DON VALENTIM e COMPUTADOR.

“Computador (1967 – Código e Otawa por Fair Trader-GB), da terceira geração nascida no Haras Rio Verde, inclusive, após ótima campanha nas pistas, onde ficou invicto em suas primeiras quatro atuações, posteriormente vencendo também o GP Jockey Club de São Paulo em 2000 metros – retornou ao haras onde nasceu para ser reprodutor. Otawa, sua mãe, era irmã própria do Tríplice Coroado Paranaense PIEN.”

WILLIAM HAJ MUSSI (1)

William Mussi também gostava de desafios, e contrariando “muitos” levou para o seu haras o cavalo MILORD (1956- Fair Trader-GB e Confiada-ARG por Broadwalk-GB) de criação do Haras Paraná Ltda, e que teve campanha no Tarumã e em Cidade Jardim, vencendo três provas em cada hipódromo. Sua principal vitória aconteceu no Tarumã no GP Consagração – em 3.000 metros. Porém, surpreendendo aqueles que não acreditavam nele – Milord tornou-se reprodutor de grande sucesso, marcando época no turfe paranaense.

MILORD produziu no Haras Rio Verde entre outros – os Derby Winners paulistas CASTÃO e DON JURANDIR; o líder de geração em SP FLORÃO; a velocista nacional BICAMPEÃ (1º GP ABCCC – SP); o clássico JAPÃO (G1 – Derby PR); além de produzir em outros haras ORIENT EXPRESS (1º Ipiranga G1, 1º Taça de Prata G1, etc.); os líderes RED POWER, e APOLLYON; os clássicos ESCOLADO (G2), CATSKILL (LR)  e muitos outros.

Inclusive CASTÃO e FLORÃO eram filhos da reprodutora KATITA (1956- Morumbi e Habla-ARG por Balcon-ARG) – uma das cinco éguas que iniciaram o Haras Rio Verde.

           CASTÃO (J.Fagundes) (2) 

Com Milord na reprodução, o Haras Rio Verde coroou-se, então, com CASTÃO e DON JURANDIR, bicampeão do Derby Paulista (1969 e 1970). Esses dois animais realizaram suas campanhas quase que exclusivamente em clássicos de Cidade Jardim. Castão correu oito clássicos, obtendo quatro vitórias, três segundos e um terceiro lugar. Don Jurandir correu treze clássicos, obtendo duas vitórias, oito segundos e três terceiros lugares. Campanhas clássicas de muito sucesso.

O haras mantinha a sua farda em poucos potros de sua criação e apenas quando estes não eram vendidos ou simplesmente quando devolvidos; pois a intenção era ter, anualmente, todos os produtos comercializados. E, com os muitos interessados, isso geralmente acontecia. Assim foi com Castão, adquirido por João Anciutti Pessoa (Stud Hanna) e Don Jurandir, adquirido por Antônio Zen.

       DON JURANDIR (E.M.Bueno)  (3)

Após a passagem vitoriosa de Milord pelo Haras Rio Verde, outros reprodutores foram incorporados ao haras de William Mussi: COMPUTADOR (Código e Otawa por Fair Trader-GB); RIDRO (Pharas-GB e Cidra por Cadir-FR); VIVAT REX-GB (Vimy-FR e Kings Well-GB por Nasrullah-ENG; e FLORÃO (Milord e Katita por Morumbi).

Destes o destaque foi COMPUTADOR (1966), de criação Rio Verde e ganhador clássico em Cidade Jardim que produziu bons animais como PAROLIN (Clássico G1 – líder de geração em Cidade Jardim), LORD UBALDO (1º G2 na Gávea), LORD WILLIAM (G1 – clássico CJ) e MOLHADO (1º G2 em CJ).

Abro um parêntese para falar de MOLHADO (1975-Computador e Mica por Panther-ARG): – Em 1977, numa manhã de sábado, meu pai, convidado pelo William Mussi, foi ao Haras Rio Verde onde iria vistoriar alguns potros para um possível negócio. Eu, como sempre o acompanhava, e não tinha aula naquele dia, fui junto. Chegando lá, meu pai tinha um lote de 12 potros para examinar, mas quando enxergou o “Molhado” piscou para mim, decidindo automaticamente qual seria a sua escolha, mesmo antes de vistoriar o restante do lote. Eu, criança ainda, simpatizei com um alazão, não muito pelo tipo físico, mas porque levava o meu nome – Mister Carlos. Meu pai disse que o meu escolhido não era ruim, mas que o bom mesmo seria o Molhado. Apostamos uma Coca-Cola.

Resultado:…Meu pai levou o Molhado para “casa” e o revendeu a um de seus melhores clientes, o hipólogo Attilio Irulegui, que aos cuidados de Walfrido Garcia e monta de Jorginho Garcia venceu 10 provas em Cidade Jardim, inclusive o GP Linneo de Paula Machado G2.

E o Mister Carlos? …este creio que obteve apenas uma vitória comum em sua campanha. – Realmente eu ainda tinha muito que aprender com meu mestre!

São histórias corriqueiras, mas que a gente não esquece…

Lembro também de outros dois bons animais criados pelo Haras Rio Verde, e que tive o prazer de vê-los correr. O primeiro foi o clássico de Grupo 1 e um dos líderes de geração no Tarumã e Cidade Jardim – LORD WILLIAM (1974 – Computador e Teda por Red October-GB). Vendido a Renato Celso do Espírito Santo, este belo alazão assumiu a liderança da geração no Tarumã, em 15 de maio de 1977, quando venceu o GP Bento Munhoz da Rocha Neto, sob a direção de Antônio Bolino.

Numa chegada memorável de “trancar a respiração” Lord William e os craques Blessed Garden, Querandi e Debique (geração top…) chegaram todos escassamente separados. Pescoço, cabeça e meio corpo separaram os quatro animais. Seguindo campanha em Cidade Jardim, Lord William venceu logo na estreia para na sequência se colocar em provas de G1 e G2 vencendo também o GP Presidente Antônio Correia Barbosa-LR em 2200 metros na areia.

    LORD WILLIAM (S.Barbosa) (4)

O outro produto do Rio Verde que vi correr foi o Derby-Winner paranaense JAPÃO (1973 – Milord e Menny por Pewter Platter-GB). Cavalo ganhador clássico de LR com 10 vitórias e que fez 3º no Derby Paulista G1 – para o craque Agente. Em 1977, Japão venceu facilmente o preparatório do GP Paraná – “GP Continental do Turfe”. Era um dos favoritos mas por problemas não chegou colocado na principal prova do Tarumã. Recuperou-se a tempo de participar do GP Bento Gonçalves em Porto Alegre quando chegou segundo para Zabro.

Enfim, o HARAS RIO VERDE está na minha lembrança e na daqueles que afortunadamente o conheceram. Também estará para sempre na história do turfe paranaense. Seu titular William Mussi, entusiasta da criação, faleceu em 2016 aos 93 anos de idade. O legado turfístico de um dos mais longevos criadores do Paraná seguiu com seus filhos – Luiz Guilherme Gomes Mussi (ex-presidente do Jockey Club do Paraná) e Roberto Gomes Mussi (Coudelaria Bob Mussi).

Imagens: 1/Arquivo, 2 e 3/Turfe&Fomento, 4/Carlos Costa

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