Tendo assistido nas corridas do último dia 23 de maio, no Tarumã, uma das mais tradicionais e vitoriosas fardas da história do turfe paranaense passar na frente no disco, veio à memória as ocasiões em que, com grande prazer, visitei o Haras Valente, de Ítalo Fernando Trombini.

São lembranças de visitas examinando potros, dos leilões realizados no próprio haras, do inesquecível “carneiro assado recheado com lentilha” dos almoços oferecidos pelo seu titular, ou mesmo quando tive o privilégio de ficar por horas conversando (...e aprendendo) com Seu Ítalo na sede do haras, onde me contou toda a história do Haras Valente.

Localizado no município de Porto Amazonas, a pouco mais de 70 quilômetros da capital, o Haras Valente, com área de 160 alqueires de rara beleza natural, foi fundado em 1944 por Luiz Gurgel do Amaral Valente, usando a área inicialmente como lazer. Seu sobrinho, o famoso compositor Paulo Soledade, passou uma temporada no haras para cura de grave enfermidade e influenciou o tio a investir em reprodutores. Tio e sobrinho viajaram para a Europa e adquiriram o francês DERNAH (Djebel-FR e Fair Maid-FR por Thor-FR). Devido aos bons contatos de Paulo Soledade com os grandes haras do Rio de Janeiro, Luiz Valente conseguiu trazer algumas boas éguas de ótimas linhagens para serem cobertas pelo DERNAH. Estes cruzamentos geraram bons produtos que eram enviados a Gávea, o que fez com que o Haras Valente vencesse as estatísticas de criadores daquele hipódromo, tornando-se um criador de muito conceito no turfe nacional. Com isso passou a comercializar toda a sua produção – inclusive devido à insistência dos clientes, até mesmo ainda na barriga das éguas. Alguns potros também permaneciam de propriedade de Luiz Valente para defenderem a sua farda “verde, faixa e braçadeiras brancas, boné azul”.

Luiz Gurgel do Amaral Valente

Na sequencia vieram outros reprodutores para o haras como os produtores clássicos SILFO (1950 – Hunter’s Moon-GB e Sirdaree-GB por Solário-GB) e HIBERNIAN BLUES–GB (1964 – Sheshoon-GB e Melody Blues-GB por Blue Peter-GB).

Haras Valente – de rara beleza natural

Em 1972 Luiz Valente vendeu o haras de porteira fechada para Geraldo Moacyr Bourdon, instalando-se no local o Haras Larissa. Além do plantel adquirido, o Haras Larissa trouxe também o reprodutor MAGNASCO-USA (1971 –Prince John-USA e Success-USA por Turn-To-IRE), pai dos campeões de velocidade GATO GEORGE e GOOD BABA e o reprodutor GOOD BOND-GB (1968 – Majority Blue-GB e Time Honoured-GB por Supreme Court-GB), pai entre outros do campeão Grupo 1 JURYMAN.

Oito anos mais tarde, em 1980, o empresário Ítalo Fernando Trombini, juntamente com seu irmão e primos Malucelli, comprou o haras; e como já o frequentava na época de Luiz Valente, o batizou em homenagem ao seu fundador – e com a devida autorização do mesmo – de Haras Valente. Emocionado com a homenagem Luiz Valente doou todos os troféus que seus animais haviam ganho para Ítalo Trombini e que passaram a fazer parte do acervo do então, agora novo Haras Valente.

    Italo Fernando Trombini

Italo Trombini, que já era proprietário de cavalos no Guabirotuba, sendo ELIANO e NOVELLO os seus primeiros pupilos, fez questão de manter o antigo e belo estilo arquitetônico do haras, sempre deixando suas instalações bem conservadas e em harmonia com a natureza . Um lugar realmente “mágico“!

Na primeira geração, o Haras Valente, nessa nova fase Trombini, já produziu o ótimo ganhador de 15 corridas, inclusive de grupo, ART INSHALLAH (Inshallah-IRE e Suprema-ARG por Minera II-GB).

Uma bela arquitetura do início do século XX

Dentro de uma política equivocada, reconhecida pelo seu próprio titular, o haras procurava criar quantidade, chegando a um plantel de mais de 70 matrizes, pensando que dessa forma, na continuação, iria obter o resultado desejado, o que não deu certo. Também trouxe os reprodutores argentinos: HIDALGANTE (1983 – Praticante-ARG e Hirosaki-ARG por Nyangal-FR) e MAN TOSS (1985 – Egg Toss-USA e Marchande-ARG por Minera II-GB), que também não apresentaram bons resultados.

Com a saída de seu irmão e de seus primos, Italo Trombini passou a dirigir sozinho o haras e a partir daí, num trabalho de grande importância do competente Dr. Newton Birskis – veterinário do Haras Valente de 1980 até os dias de hoje – mudou totalmente a política, investindo em matrizes selecionadas de boas linhagens, onde os resultados passaram a ser muito positivos.

                           THIGNON LAFRÉ

Também, por insistência do Dr. Newton Birskis, foi adquirido o reprodutor THIGNON LAFRÉ (1987 – Henri Le Balafré-FR e Mignon por Earldom-USA), ganhador do Derby Paulista G1 e do GP São Paulo G1. O sucesso foi estrondoso, pois produziu no Haras Valente, entre outros o 9º Tríplice Coroado Paulista – ROXINHO, e o ganhador do GP Brasil G1 – THIGNON BOY. Também trouxe para o haras o reprodutor NEW COLONY-USA (1983 – French Colonial-USA e Newfoundland-USA por Prince John-USA), pai de inúmeros ganhadores de grupo 1, entre eles URODONAL – vencedor do Derby Paulista G1, e de criação Valente.

Nessa época, o haras passou a manter um plantel de animais em treinamento no Tarumã, Cidade Jardim, Gávea, Uvaranas, Fazenda Rio Grande, Uruguai e Dubai.

URODONAL  em pintura de Cassio Mello

Na sequencia outros reprodutores chegaram ao haras como A GOOD REASON (1994 – Purple Montain-USA e Met Blade por Restless Jet-USA) que produziu no Haras Valente o ganhador de grupo e exportado para Dubai VARADOURO; e LORD MARCOS (Clackson e Las Primas-USA por Woodman-USA) que produziu no Haras Valente a ganhadora do Clássico Primavera LR – AMPULHETA; além de possuir cotas de outros reprodutores como Torrential-USA, Blush Rambler-USA, Yagli-USA e Inexplicable-USA.

Também para trazer ainda mais sucesso ao Haras Valente, foi incorporado o reprodutor americano CRAFTY C.T. (1998 – Crafty Prospector-USA e Adriana B.-USA por Far North-CAN) que produziu vários clássicos de provas de grupo, mas principalmente o 10º Tríplice Coroado Paulista –  FIXADOR. Assim, Ítalo Trombini obteve a segunda tríplice coroa de sua criação. Exportado para os Estados Unidos, Fixador foi repatriado para a reprodução, sendo pai, entre outros do ganhador de grupo 1 – PLAY DO IGUASSU, porém morreu em 2021.

 CRAFTY C.T.

FIXADOR (foto de Paulo Bezerra Jr)                              

Criar cavalos e estar com os amigos eram duas grandes paixões de Ítalo Fernando Trombini; assim reunia seus amigos em seu grupo de cocheiras para o tradicional jantar das segundas-feiras. Infelizmente esse grande criador e gentil anfitrião, desde 2022, não está mais fisicamente entre nós, porém a tradicional farda azul, cinta e braçadeiras brancas, boné vermelho segue fazendo bonito nas pistas.

Uma magnífica história de 81 anos do Haras Valente que, em nosso hipotético Hall da Fama do Turfe Paranaense, certamente teria um lugar mais do que merecido!

Que Ítalo Fernando Trombini Filho e Ítalo Fernando Trombini Neto possam em breve levar o Haras Valente a uma “Tríplice – Tríplice Coroa”. Pois afinal de contas…

“Criar um tríplice coroado é muito bom, criar dois é ótimo, e criar três nunca seria demais”!

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